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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O ZEN E O YOGA





No início, há milhares de anos, tudo aponta para que os indianos tivessem desenvolvido o yoga como uma filosofia prática que evitasse ou pelo menos diminuísse o sofrimento humano e permitisse o auto controlo nomeadamente dos sentidos.
Quando falamos na origem do Yoga costuma-se dizer que terá mais de 5000 anos, mas na realidade esse mais poderá indiciar mais do que 10 000 anos, num periodo pré histórico sem tanto misticismo como o que a Idade Média adicionou a este tipo de práticas.
Esta noção de autocontrolo dos sentidos denota um elevado grau de consciência civilizacional, pois fora daquele contexto não se conhecia nenhuma técnica divulgada que se assemelhasse: as pessoas e os grupos reagiam aos contextos com amizade ou violência sem ter em conta o seu controlo emocional ou a sua personalidade, dependia do seu humor instantâneo e da sua posição de força.
O yoga começa por ser um conjunto de técnicas mentais e físicas que também não eram apelativas para a maioria, pois eram difíceis e muitas vezes penosas: imobilizações contínuas de horas ou dias, capacidade de sofrimento perante a dor voluntária, aguentar o calor de chamas por baixo do corpo e outras habilidades agora consideradas fáquires.
Com o tempo surgiram mestres que apuraram o yoga como uma prática cada vez mais suave e acessível às massas diferenciando-se então a versão faquir da prática mais individualista em que o equilibrio e a paz encontrada no indivíduo é encontrada dentro dele sem que haja necessidade de demonstrações físicas.
A evolução dos yogas mais dedicados ao controlo mental criaram uma prespetiva pacifista e de respeito pelos outros seres vivos, tendo atingido níveis de respeito pelos outros maior que o autorespeito do próprio praticante.
A partir da Índia, segundo a lenda, ter-se-á propagado o ensinamento yogui para outra grande e velha civilização, a China, onde a componente física terá dado origem, segundo alguns, às artes marciais: Bodidharma o divulgador lendário do Yoga pela China terá ensinado a prática de movimentos e posturas yoguis a monges chineses que terão desenvolvido este tipo de ensinamento no sentido da defesa pessoal eficaz.
Diz-se que quando Bodidharma contactou o mosteiro Shaolin, os seus monges nem podiam ir à aldeia mais próxima sem estarem sujeitos à violência dos camponeses que lhes batiam para os roubar ou mostrar que eram mais fortes, pois os monges meditavam tanto em posições imóveis que os seus músculos eram muito fracos. Depois do ensinamento yogui de Bodidharma passaram a ter a componente de treino físico que ao fim de umas gerações de mosteiro se tornou o Kung Fu perigoso e eficaz de Shaolin e se difundiu pelo resto da China, Coreia, Tailândia, Japão e outros países orientais.
No Japão já existiam os exércitos marciais com as suas técnicas de luta corpo a corpo quando na Idade Média surgiu uma primeira tentativa de introduzir o Zen na sua versão mais suave, não tendo tido aderência, só uns séculos depois é que uma versão mais rígida e compatível com a forte hierarquia da classe nobre e guerreira é que realmente foi aceite e absorvido pela cultura Japonesa como forma de otimizar a arte da guerra, tornando-se o Zen uma expressão japonesa do Chuan, yoga chinês.
Enquanto o yoga evoluiu no sentido da paz interior e a paz com os outros o Zen incorpora essa capacidade de autocontrolo no aumento da eficácia do processo de guerra do samurai, só com a abulição do estatuto de samurai como garante da sociedade japonesa é que o Zen se torna pura paz e ajuda nas artes marciais.
Arte marcial já não é técnica mortal de guerra mas sim uma arte para não deixar perder o conhecimento acumulado da guerra pelo samurai.

PensaCM

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